terça-feira, 14 de abril de 2009

Decapitaram a América Latina

Visitando o Catetinho, depois de conhecer Brasília e o Lago Paranoá, tendo visitado o Memorial JK, um lampejo iluminou espaços geográficos e brilhou sobre páginas da História e meus lábios exclamaram: “Decapitaram a América Latina! E foi por medo! Medo, o pai da inveja e avô da covardia!”.
Frente à construção de madeira do Catetinho, incrustado na floresta do Serrado, cheirando o frescor da mata virgem, meus braços se estendem querendo abraçar...
- Abraçar o que? Quem abraçar? – e minha própria voz gritando silenciosamente pelos espaços e horizontes da História do meu país, da minha América do Sul e Latina.
- Abraçar você, Jucelino e Israel Pinheiro? Abraçar o Povo Brasileiro e o Povo Latino-Americano?
- Não! – eu mesmo respondo às minhas perguntas – abraçar o futuro do Brasil e da América do Sul, conceito abstrato que é preenchido por milhares e milhões de rostos infantis e juvenis, de meninos e meninas, d rapazes e mocinhas de bocas tapadas, de peitos esmurrados, de sexo violentado, de idéias engaioladas, de mentes bitoladas e robotizadas. E os versos de Castro Alves explodem dos meus lábios:
- “Deus!... ó Deus, em que céu, em que Mundo tu te escondes?...”
Enquanto meu corpo se estendia sobre o Mapa da América do Sul e minha cabeça se reclinava sobre o Mapa da América Central, minhas mãos e meus lábios buscavam acariciar tantos corpos sofridos e agredidos, meus lábios buscavam beijar tantas e tantas faces eriçadas de dor e umedecidas pelas lágrimas de choros convulsivos... Tudo se ilumina, em meu ser.
Quando perceberam que Brasília brotou, no planalto goiano, como cogumelos que explodem da terra da noite para o dia, os Gigantes Robôs Dourados do Norte ficaram surpresos, impressionados, assustados, indignados, raivosos, apavorados...
- Os faraós estão reencarnando! – exclamam a voz rouca do Reino Desintegrado.
- Os leões do Deserto saem das florestas Tropicais! – ruge o Leão Acastelado, em sintonia com a Bota Gigante, sacudindo o mar.
Todos os Grandes-Robõs-Dourados-do-Norte são unânimes no terror e nas decisões e anunciam que o Fantasma Vermelho, comandando milhões de Duendes brancos ameaçam o Mundo Verdadeiro com a sua Doutrina Rebelde.
O Gigantesco Fantasma Vermelho ameaça a Ordem Mundial, recém conquistada, brandido a Foice e o Martelo da nova Destruição.
- É preciso derrotar o Mal, enquanto há tempo!
Um calafrio percorre a espinha dorsal do Continente Americano...
Jucelino Kubitschek, alicerçado em Getúlio Vargas e Perón, é a grande ameaça que vem do Sul, fazendo tremer o Gigante do Norte.
Súbito desperto de meu sonho e prontamente interpreto a linguagem onírica. Salto da cama como fera acuada e clamo:
- Sim, agigantaram o Fantasma do Comunismo e impuseram os governos Militares na América do Sul e Latina, como os baluartes na defesa da Ordem Verdadeira, por eles proclamada.
Tiveram, assim, motivos e justificativas de sobra para “decapitar a América Latina”, ceifando as lideranças intelectuais, científicas e sócio-políticas.
Não bastasse isso, amordaçaram as vozes juvenis e pisaram na mera possibilidade de surgirem novos líderes, germinados na escola, com o discurso mais cínico que já ouvi ou li:
- “Não se deve premiar os três primeiros lugares da matéria ou disciplina escolar, os três primeiros da sala ou do colégio, pois em benefício de uns pouco privilegiados, estaremos impondo frustrações à grande maioria dos jovens estudantes”.
Foram criadas as Gincanas Estudantis – que por mais interessantes que possam ser – jamais poderão ser comparadas à Grande e Duradoura Gincana, formadora de competência e do caráter, indispensáveis às grandes lideranças que comandam o processo da Evolução História de cada povo e da Sociedade Humana.
Contudo, como a Vitória, a Conquista e a Satisfação, decorrente do processo Evolutivo, oriundo da Lei Cósmica da Evolução sempre impulsionou e impulsionará as pessoas e a sociedade, sobram outras formas de sucesso, de conquista, onde brilham os talentos.
Deixa-se premiar os valores essenciais da pessoa, para premiar a aparência, a superficialidade, quando não a banalidade.
Passam a ser premiadas as coxas nos campos desportivos, especialmente futebolísticas. Premiam-se também esqueletos humanos equilibrando-se nas passarelas.
Valoriza-se o belo das aparências e não mais o Belo da Essência que equivale ao Bom e ao Verdadeiro.
E a sociedade do século XX perde-se em meio aos brinquedos da tecnologia, do carrinho e boneca de plástico, às Mercedes e Ferraris e às bonecas da prostituição, da moda e das passarelas.
Contestam-se valores religiosos e morais, da formalidade e da organização rígida.

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