quinta-feira, 2 de julho de 2009

Nossos Trigais

Quando vem o frio,

Quando a geada estende seu lençol branco,

Quando um ventinho delido costa as faces,

Inevitavelmente

Recordo os meus tempos de menino, casaco apertado, tamancos rudes, o calor do fogo e o frio da manhã.

Tempo de frio é tempo de plantar trigo.

Terra preparada. Odor acre de solo fértil, de mistura, às vezes, ao cheiro de arbustus queimados.

Papai semeando os grãos.

O arado removendo a terra.

As enxadas retocando o trabalho arado.

Então, a semente que eu via caindo sobre a terra, a semente que eu sentia sendo enterrada, carregava consigo um lindo sonho. O sonho das folhas verdes, espadas de esperança rasgando o solo promissor.

Depois as folhas iam subindo – e o sonho crescendo.

As espigas anunciadas e a esperança enriquecida. Esperança banhada de alegria. Sonho e certeza dando nó na garganta .

O sonho dos trigais ondulantes e dourados, carregados da maior riqueza de um pobre lavrador.

Ai, sentindo o frio cortando as faces,

O odor da terra penetrando as narinas,

Os grãos navegando – olhar a dentro,

Um sonho desfilando pelo cérebro,

Eu via tudo com um peso no coração,

Um peso que era uma dor suave e um sofrimento alegre.

Era toda a minha torcida para que aqueles grãos se multiplicassem em vasta seara, e a máquina viesse, triturando palha e derramando sacos e sacos de trigo.

O meu sonho era grande, o meu desejo imenso, a minha torcida sem igual.

Quero ver o rosto de meu pai se abrir num largo sorriso.

O rosto de meu pai desabrochando em alegria: o meu maior contentamento, minha felicidade de menino pobre, sentindo a pobreza estreitando tenazes em todos os lados.

Não me assusta o frio. O trabalho não mete medo.

Sinto uma coragem imensa para lutar junto com meu pai, ao lado de minha mãe e meus irmãos.

Eu quero

Eu sonho vê-los felizes.

***

Hoje o frio assobia pelas paredes da casa e eu revivo um sonho. Vejo os lindos trigais carregados de espigas e de sonhos, de espigas e de esperanças,

De espigas e de felicidade.

Esses trigas que meus filhos não haverão de ver como eu vi.

E a saudade se faz maior.

Pedro A. Grisa

Canoinhas/SC – 1976.

Um comentário:

  1. Boa tarde,Sr. Pedro A. Grisa

    Sou da escola ACE - Associação Catarinense de Ensino(Joinville), em outubro realizaremos a 2ª Mostra, e a minha turma (8ª série) está realizando um projeto sobre os escritores catarinenses, solicito seu e-mail para melhor manter contato.

    Agradeço desde já.
    meu e-mail: fernanda.sievert@terra.com.br

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